Seus Deuses, Seus Políticos e Sua Idolatria
Por que transformamos governantes em figuras intocáveis?
Antes de tudo, quero que você esqueça partidos. Esqueça se você é de esquerda ou direita. Esqueça nomes, cargos, siglas e bandeiras. Apenas por um momento, deixe de lado qualquer político — seja presidente, senador ou deputado.
Sempre que esse assunto surge, a primeira pergunta que fazem — como se ela pudesse definir alguém por completo, de forma simplista e hipócrita — é: "Esquerda ou direita? Lula ou Bolsonaro?"
Mas será que política se resume a essa dicotomia? Se você já se fez essa pergunta ou se irrita ao ouvi-la, te convido a continuar lendo. Mas leia sem amarras, sem rótulos e sem conceitos pré-fabricados.
Porque a verdade é que política não deveria ser tratada como um campo de batalha entre lados opostos. Ela não se restringe a partidos ou ideologias engessadas.
Agora, pense comigo: por que o Brasil, politicamente, nunca avança?
Essa pergunta tem muitas camadas, e é sobre elas que falaremos aqui.
A idolatria na política brasileira.
A grande mentira contada sobre o brasileiro é que ele odeia política. Quando, na verdade, a política é o que mais se comenta — seja em mesas de bar, grupos de família ou redes sociais. O brasileiro não odeia política, ele a venera.
O que nos dizem é que vivemos em um país desinteressado, mas basta criticar determinado governo ou presidente para se tornar alvo de chacotas e adjetivos delicadamente escolhidos para te diminuir. A crítica, que deveria ser uma ferramenta democrática, vira motivo de cancelamento.
O que muitos esquecem é que o político em posição de poder nada mais é do que um funcionário público. Um servidor pago pelo nosso dinheiro — o dinheiro da classe trabalhadora. Seu político idolatrado é igual a qualquer funcionário de escola, posto de saúde ou SUS. Não deveria estar acima da crítica, nem receber aplausos por fazer apenas o mínimo esperado.
A diferença é que, enquanto um professor ou médico dificilmente recebe reconhecimento pelo que faz, um político é tratado como salvador, messias ou até mesmo deus. E assim, a idolatria se disfarça de lealdade cega.
Dispense os aplausos!
Porque a verdade é essa: ele só faz o mínimo. E isso é sua obrigação. Você não precisa beijar os pés de nenhum parlamentar por cumprir seu dever, afinal, ele foi eleito para isso. Foi colocado no cargo para trabalhar pelo povo e recebe um salário exorbitante para, muitas vezes, entregar apenas o básico. Enquanto isso, a população luta para ter o mínimo de assistência, vivendo à margem de direitos que deveriam ser garantidos.
A guerra dos bonés.
Enquanto a população enfrenta condições precárias há décadas, os grandes parlamentares — tanto da direita quanto da esquerda — travam uma guerra. Mas não uma guerra por melhores salários, educação ou saúde. Uma guerra de bonés. Sim, você leu certo.
Essa é a realidade da política no nosso país. Em vez de debater leis, fiscalizar verbas e lutar por direitos, nossos representantes transformam o cenário político em um espetáculo ridículo, transmitido em rede nacional e até internacional. O povo sofre, enquanto eles fazem algazarra.
E assim, a política brasileira se afunda cada vez mais no teatro da irrelevância.
Seu imposto, nossa nobreza.
Acredito que todos deveríamos entender, de fato, para onde vão nossos impostos. Enquanto a população paga valores absurdos e enfrenta o peso da alta do dólar, seguimos nos sacrificando para sustentar um sistema que desvia e desperdiça dinheiro público como se fosse troco de café.
Trabalhamos duro para bancar um país onde os impostos, em vez de retornarem em serviços básicos de qualidade, alimentam privilégios e enriquecem poucos. O dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação e segurança vira moeda de troca em esquemas de corrupção, como se fosse um recurso infinito.
Enquanto o povo luta para pagar as contas, os políticos vivem como nobres — sustentados por um dinheiro que não lhes pertence.
Sim, a lava jato existiu.
Nesse ponto da caminhada, você já deve ter seus pensamentos já apontados sobre mim. Mas aqui vai um fato incontestável: sim, a Lava Jato existiu.
A Lava Jato foi a maior operação anticorrupção da história do Brasil, iniciada em 2014. O esquema investigava um gigantesco esquema de desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e uma rede de políticos e empresários de alto escalão. O caso revelou um sistema de corrupção institucionalizada, onde contratos superfaturados e propinas movimentavam bilhões de reais.
A operação levou à prisão dezenas de empresários e políticos, incluindo ex-presidentes, e expôs como o dinheiro público era drenado para alimentar campanhas, favores e enriquecimento ilícito. Mas, como tudo na política brasileira, a Lava Jato virou um jogo de narrativas. Para alguns, foi um marco histórico na luta contra a corrupção; para outros, uma operação politizada, seletiva e usada como ferramenta de perseguição.
O que não se pode negar é que ela aconteceu. E, no final, sua ruína veio não só pelos erros internos, mas também porque mexeu em estruturas que jamais poderiam ser completamente derrubadas.
A pergunta que fica é: quem realmente venceu essa guerra?
Lula x Bolsonaro
Duas faces da mesma moeda
Entre tantas discussões e rivalidades entre os fãs de Lula e Bolsonaro, a verdade inconveniente é que ambos pertencem à mesma moeda — apenas em lados opostos. Seus governos, por mais diferentes que pareçam no discurso, compartilharam erros grotescos, populismo exacerbado e promessas não cumpridas. Assim como Getúlio Vargas, Dilma, Temer e tantos outros, ambos deixaram um legado de falhas que o país carrega até hoje.
Agora, vamos colocar alguns pontos na mesa.
Lula (2003-2010, 2023-presente):
Lula chegou ao poder como um símbolo de esperança para as classes mais pobres e entregou avanços sociais significativos, como o Bolsa Família e a ascensão de milhões à classe média. No entanto, seu governo foi marcado por um modelo de crescimento baseado no consumo e crédito fácil, sem planejamento sustentável. E o pior: corrupção institucionalizada.
Mensalão, Petrolão e a Lava Jato mostraram um governo profundamente envolvido em esquemas de desvio de dinheiro público. A promessa de moralizar a política se desfez em meio a alianças questionáveis e um pragmatismo que manteve velhas práticas no jogo de poder. Sua volta ao governo em 2023 trouxe mais do mesmo: inchaço da máquina pública, acordos fisiológicos e discursos vagos sobre um futuro que nunca chega.
Bolsonaro (2019-2022):
Bolsonaro surfou na onda antipetista e na promessa de renovação, mas entregou um governo tão caótico quanto os anteriores. Sob sua gestão, vimos uma condução desastrosa da pandemia, com negacionismo, desinformação e uma insistência infantil em atacar vacinas e medidas sanitárias.
A economia patinou, o desemprego disparou, e o governo apostou em uma guerra cultural vazia, onde pautas morais se tornaram mais importantes que soluções reais para o país. Além disso, Bolsonaro não combateu a corrupção como prometeu — pelo contrário, se aliou ao centrão e viu seu governo envolvido em suspeitas de rachadinhas, orçamentos secretos e negociações duvidosas. Enquanto Lula e Bolsonaro se alternam no poder e polarizam a população, o Brasil segue estagnado. O debate político virou um Fla-Flu irracional, onde os erros são ignorados pelos próprios apoiadores e a idolatria substitui a crítica.
Me pergunto quando o Brasil deixará de escolher entre dois erros e começará a exigir algo realmente novo?
E o ciclo se repete, de novo e de novo!
Os brasileiros têm um histórico de eleger políticos como salvadores e, depois, se decepcionarem com eles. O problema é que, ao invés de aprender com os erros, nós trocamos um político ruim por outro, acreditando que o novo será diferente. Lula foi eleito como a esperança contra a desigualdade, Bolsonaro como o guerreiro contra a corrupção. No final, ambos caíram nas mesmas armadilhas: corrupção, alianças duvidosas e falta de compromisso com mudanças estruturais.
A idolatria faz com que os eleitores ignorem os erros dos seus líderes e repitam o ciclo de decepção a cada eleição.
Suas celebridades estão em Hollywood.
Se pararmos de tratar políticos como celebridades ou deuses e começarmos a vê-los pelo que são — funcionários públicos pagos com nosso dinheiro —, poderemos finalmente agir como cidadãos críticos.
A idolatria política só serve para manter o sistema como está. Se quisermos mudanças reais, precisamos abandonar esse culto e lembrar que o poder, no fim das contas, deveria estar nas mãos do povo — não dos políticos.
Enquanto tratarmos políticos como ídolos e não como empregados do povo, continuaremos sendo governados como súditos — e não como cidadãos.
Segundo texto que leio seu e concordo com tudo, quer ser minha amiga? Kkkkkkk
Sério, nunca pare de escrever esse é um dom gigante que você tem! Que palavras necessárias!
Que texto ótimo, ótimo posicionamento e pauta incrível, isso deveria ser ensinamento público