E se nós pudéssemos reescrever a história?
Será que finalmente encontraríamos a felicidade?
Erros deixariam de ser cometidos. Brigas não teriam ocorrido. Decisões seriam tomadas sem hesitação. Falar sobre os próprios sentimentos não seria uma prisão. O destino, em nossas mãos, seria reescrito por nós e com nós. Talvez seríamos um conjunto de tudo aquilo que absorvemos em nossa pele, gradadas em nossos ossos;
Reescreveria sobre você no dia 27 de maio, tudo o que representou de alguma forma. Mas, às vezes, me pego pensando se poderia ter reescrito também o seu papel como ser humano—se isso fosse possível. Me reescreveria sob a perspectiva de alguém que nunca fui, da melhor amiga que me apunhalou pelas costas. Apagaria o meu ciúme, como se ele nunca tivesse existido, como se o que já está entre nós pudesse ser desfeito com uma simples borracha. Mas algumas palavras, assim como algumas feridas, não se apagam—elas apenas se tornam parte da história que não tivemos escolha senão carregar.
Eu reescreveria tantas coisas! Brigas mal resolvidas, conversas que deveriam ter existido e outras que jamais deveriam ter acontecido. Reescreveria os momentos em que hesitei, as pessoas que passaram sem que eu deixasse que tocassem minha alma. Pensamentos que nunca se transformaram em palavras, discursos que ficaram presos na garganta, amores que morreram no silêncio. A timidez que me sufocava—talvez essa fosse a primeira coisa que eu apagaria.
Eu daria qualquer coisa para voltar àquela mesma calçada e dizer tudo o que ficou preso na garganta. Chamaria para perto quem ficou longe, seguraria firme as amizades que deixei escorrer pelos dedos achando que eram nada. E você... você, que eu ouvi, confiei, chorei e desabafei, mas que no fim me virou as costas. Se eu pudesse reescrever essa história, talvez seu papel fosse menor, quase inexistente—apenas um ruído de fundo em algo muito maior do que nós duas.
Será que, se eu tivesse feito as escolhas certas, finalmente encontraríamos a felicidade? Pergunto-me isso muitas vezes, quando olho para o passado e vejo as trilhas que tomei, os caminhos que poderiam ter sido diferentes. Mas, como sempre, as perguntas ficam sem respostas definitivas. O que mais me assombra não é o que fiz ou deixei de fazer, mas o que ficou por dizer, o que ficou sem ser vivido.
Quantas histórias incríveis se perderam no tempo? Quantos momentos se foram sem serem vividos ao máximo? Quantos amores ficaram apenas no silêncio? E as oportunidades... quantas ficaram para trás, apenas como uma memória distante?
E agora estou aqui, no mesmo lugar, cercada pelas sombras do que já foi. Vejo, em fragmentos, ruínas do passado, espalhadas pelo presente, e me pego imaginando o que poderia ter reescrito, o que poderia ter feito diferente para evitar a dor, o arrependimento, as perdas. E, mesmo diante de tudo isso, ainda há algo que me impede de dizer o que eu realmente sinto. Queria poder dizer que te odeio, mas nem isso consigo, porque, no fundo, sei que, se eu pudesse voltar e reescrever nossa história, eu seria a pessoa que choraria diante das ruínas que um dia foram templos magníficos.
Em um dia, você é tudo para o outro, e no dia seguinte, é como se fosse reescrito na mesma história que ambos compartilharam. As cinzas de um tempo, de confiança, de lealdade, se espalham, e você já não é mais nada. O que era sólido, o que parecia imbatível, agora se desfaz em partículas invisíveis, como se nunca tivesse existido. É estranho como as pessoas podem ser escritas e reescritas na vida de outra, como se pudessem ser apagadas, reconfiguradas, substituídas por um novo papel, uma nova versão da história.
Talvez a felicidade nem esteja nisso. Mudar tudo por conta de uma pessoa? Será que eu estaria mudando por ego, pelo meu eu, pela minha felicidade? Ou seria apenas uma busca incessante por algo que nunca poderia ser completo?
Talvez a felicidade estivesse naquele micro momento, nas poucas vezes em que estivemos juntas, nas risadas que compartilhamos, nas promessas que fizemos. Em algum momento, eu fui feliz. Mas não me lembro mais dessa sensação, ela escorreu pelas minhas mãos como se fosse areia, um instante efêmero que agora se mistura com a poeira do tempo. Eu desabei com tudo ao meu redor, e parecia que eu era a própria ruína, fragmentada e espalhada, sem rumo.
Genuinamente, será que saberíamos o que é a felicidade? Será que, ao arriscar o que nem sequer tive, eu estava buscando algo que nem sabia como definir? Em algum momento, nós seríamos felizes? Ou será que a felicidade, se é que ela existe, não passa de uma ausência? A ausência de algo. A ausência de tristeza, de vazio, de ser. Talvez a felicidade seja simplesmente a quietude entre os erros, a paz que vem quando conseguimos parar de tentar encontrar sentido, e só existimos.
Da
ao Orion das ideias tagarelas.Tema #6: E se eu pudesse reescrever a história?